Cap. 238
Forçando a vista contra as páginas amareladas, Augustus tenta prosseguir sua leitura, na verdade, trata-se mais de uma interpretação dos espectros de palavras que um dia foram registradas e que agora só assombram os pedaços de papel.
Mas, o delegado prossegue na esperança de encontrar alguma informação útil. Ou, pelo menos, conseguir entender melhor como irá morrer.
Champlain registrou: “Ainda conforme a lenda contada por Nuvem Cinzenta, o povo orgulhoso já não era mais tão numeroso, nem altivo e estava pronto para deixar o orgulho de lado e se prostrar pedindo perdão aos que vivem acima e além.”
Foi então que veio a voz, como o rosnado, que parecia surgir de todos os lugares e, ao mesmo tempo, de dentro de cada um deles. A voz oferecia uma saída.
“Seu povo não merece sofrer por ser poderoso”, dizia a voz. “É a inveja que faz com que punam sua gente. Isso é justo?”
“Os que vivem acima e além têm medo de que sua fome de conhecimento e poder chegue até eles. Eles têm medo de vocês, por isso, deixam seu povo fraco, tirando da terra tudo o que possa dar força a vocês.”
A voz provocou: “Eles conseguiram tirar também sua coragem?” Os nativos, há muito apáticos, começaram a se manifestar. Crescia neles uma raiva que aquecia, motivava, seus estômagos gritavam e grunhiam de volta para a voz.
“Vocês têm coragem para fazer o que é preciso para sobreviver a essa maldade e injustiça? Têm ainda orgulho de se erguerem e tomarem seu destino de volta em suas mãos?”
O líder perguntou à voz o que precisariam fazer. A voz respondeu: “Sigam a minha lei, minhas regras”.
Os nativos perguntaram quais seriam as regras. A voz explicou que eles não deveriam plantar, apenas caçar. Que não aceitariam fracos em seu povo, por isso, mulheres ou crianças seriam apenas mais um tipo de alimento a ser caçado, abatido e consumido. Seu povo cresceria por meio de guerras e conquistas, poupando os homens jovens para seguirem suas leis e lutarem ao seu lado ou serem devorados.
O líder questionou sobre misturar o sangue de seu povo com outros mais fracos. A voz explicou que sangue e carne são apenas comida, o que une verdadeiramente é a fome.